sexta-feira, 2 de julho de 2010

O APGAR Cirúrgico

A circular normativa nº 16 de 22/06/2010 normaliza a implementação do projecto “Cirurgia Segura Salva Vidas” em todos os blocos do sistema Nacional de saúde. Esse projecto prevê o preenchimento obrigatório da (já nossa conhecida) lista de verificação da segurança cirúrgica até ao final de Setembro de 2010, bem como o cálculo do APGAR Cirúrgico, iniciando-se o registo do mesmo a partir do dia 1 de Julho de 2010.
Enquanto que a aplicação da check-list já está, no nosso bloco operatório, implementada nos três diferentes períodos Sign-in, Time-out e Sign-out, e o seu registo já é efectuado no nosso sistema de registos informático (Metavision®), a aplicação do APGAR suscita algumas dúvidas devido ao desconhecimento do referido índice.
O cálculo do “Índice de APGAR Cirúrgico” possibilita, através de uma estimativa da perda de sangue, da menor tensão arterial e da menor frequência cardíaca, observar a probabilidade de ocorrência de complicações major no pós-operatório. Assim permite-nos classificar os doentes à saída da sala de operações, com maior ou menor risco de desenvolver complicações nos trinta dias subsequentes à intervenção cirúrgica, fornecendo à equipa cirúrgica um feed-back imediato sobre a condição física do doente. São vários os estudos de investigação que referem que, os doentes com índice de APGAR cirúrgico inferior a 4 têm grandes probabilidades (+\- 60%) de desenvolver complicações pós-operatórias major.
O cálculo do índice é a soma dos pontos em cada categoria, sendo que na categoria “Estimativa de perda de sangue” a variação da pontuação vai de 0 pontos, para perdas superiores a 1000ml, a 3 pontos, quando a estimativa é de inferior a 100ml. Na categoria “Menor tensão arterial média” a variação é de 0 pontos, quando esta é inferior a 40mmHg, até 3 pontos quando é superior ou igual a 70 mmHg. E na categoria “Menor frequência cardíaca” a distribuição dos pontos vai de 0 pontos, para uma frequência cardíaca superior a 85 bat/min, até aos 4 pontos se a frequência cardíaca for inferior ou igual a 55 bat/min.
O Índice de APGAR cirúrgico já está disponível no nosso sistema informático junto da check-list cirúrgica.
Bom Trabalho.

Mais informações em:
http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/a+saude+em+portugal/noticias/eemi+cirurgia.htm
http://www.gawande.com/documents/AnApgarScoreforSurgery.pdf
http://www.gawande.com/documents/2009ArchSurg--UtilityofApgarScore.pdf
http://cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=22501360

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O Escafandro e a Borboleta

Periodicamente (espero eu) vou sugerindo filmes, livros e.t.c. que considero importantes e que nos fazem pensar para o que HESBEEN (2000) chama de “despertar para as coisas da vida (…) numa perspectiva de enfermagem”. Este é um desses filmes…
“O Escafandro e a borboleta” conta a história verídica de Jean-Dominique Bauby, nascido em 1952, pai de três filhos. Era redactor-chefe da revista francesa Elle quando foi vítima de um locked-in syndrome, uma doença rara, que o deixou lúcido intelectualmente, mas paralisado por completo, só podendo respirar e comer por meios artificiais e mover unicamente o olho esquerdo.
Com este olho piscava uma vez para dizer sim e duas vezes para dizer não. Com ele chamava também a atenção do seu visitante para as letras do alfabeto, formando palavras, frases, páginas inteiras. Assim escreveu um livro com o mesmo titulo mo filme: todas as manhãs, durante semanas, decorou as suas páginas antes de ditá-las, depois de as ter corrigido mentalmente durante a noite.




"Por trás da cortina de pano roída pelas traças, uma claridade leitosa anuncia a aproximação da manhã. Doem-me os calcanhares, sinto a cabeça apertada num torno, e todo o meu corpo está encerrado numa espécie de escafandro. O meu quarto sai lentamente da penumbra. Observo pormenorizadamente as fotografias dos meus queridos, os desenhos das crianças, os cartazes, um pequeno ciclista de folha enviado por um camarada na véspera do Paris-Roubaix, e o cavalete que sustenta a cama onde estou incrustado há seis meses como um bernardo-eremita sobre o seu rochedo...”. “…O progresso das técnicas de reanimação tornou o castigo mais sofisticado. É possível escapar, mas mergulha-se naquilo que a medicina anglo-saxónica baptizou muito justamente com o nome de locked-in-syndrome: paralisado da cabeça aos pés, o paciente fica encerrado dentro de si próprio, com o espírito intacto e os batimentos da pálpebra esquerda como único meio de comunicação.”
Bauby faleceu a 9 de Março de 1997, mas deixou este seu testemunho impressionante, bem escrito, e melhor traduzido, do que é ter um intelecto vivo dentro de um corpo morto.
Não tenho o livro mas o filme posso emprestar…

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Copos Humidificadores - Sim ou Não?

A questão da humidificação do O2 tem levantado muita polémica ao longo do tempo. Durante bastante tempo foi ensinado nas escolas e estava presente em todos os manuais médicos a importância da utilização de copos humidificadores para a administração de oxigénio, de modo a prevenir danos na mucosa nasal.
Nos últimos tempos muitas questões se têm levantado sobre a real vantagem da utilização dos copos humidificadores reutilizáveis versus copos humidificadores de uso único. A nível mundial são vários os estudos que provam a inutilidade desses artefactos quando a administração de O2 é feita pela via aérea superior em períodos inferiores a 24 horas.
Assistimos assim á queda de um mito… Na grande maioria dos casos não é necessário o uso de copos humidificadores, excepto quando o cliente necessita de O2 em alto fluxo por mais de 24 horas consecutivas ou quando o O2 é administrado a clientes traqueostomizados.
A Nursing Times (Link: http://www.nursingtimes.net/nursing-practice-clinical-research/specialists/respiratory/does-oxygen-need-humidification/5009649.article) publicou um artigo referente a esta questão e a British Thoracic Society (Link: http://www.brit-thoracic.org.uk/Portals/0/Clinical%20Information/Emergency%20Oxygen/Emergency%20oxygen%20guideline/THX-63-Suppl_6.pdf) na suas guidelines sobre a administração de O2 invoca nas suas recomendações que:

“34. Humidification is not required for the delivery of low-flow oxygen or for the short-term use of highflow
oxygen. It is not therefore required in prehospital care. Pending the results of clinical trials, it is reasonable to use humidified oxygen for patients who require high-flow oxygen systems for more than 24 h or who report upper airway
discomfort due to dryness. [Grade B]

35. In the emergency situation, humidified oxygen use can be confined to patients with tracheostomy or an
artificial airway although these patients can be managed without humidification for short periods of time (eg, ambulance journeys). [Grade D]

36. Humidification may also be of benefit to patients with viscous secretions causing difficulty with expectoration. This benefit can be achieved using nebulised normal saline. [Grade C]

37. Bubble bottles should not be used because there is no evidence of a clinically significant benefit but there is a risk of infection. [Grade C]”

Agora podem tirar as vossas conclusões. Bom Trabalho.